O conhecimento linguístico
O conhecimento linguístico
O conhecimento linguístico reflete a própria comunidade de falantes, pois é compartilhado por todos os indivíduos que têm, na língua materna o mais forte elo de ligação. Assim, percebe-se que a linguagem é um fenômeno social, construído ao longo do tempo. Nós, brasileiros, somos falantes da 'Última flor do Lácio", a Língua Portuguesa e nos sentimos orgulhosos por pertencermos a esta grande família linguística formada por países como: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Macau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe, Timor-Leste. Na Ásia as regiões de Goa, Damão e Diu têm a Língua Portuguesa como herança tradicional da colonização portuguesa no oriente.
A linguagem é um conhecimento implícito, ou seja, o falante adquire de forma natural como evolução de seu desenvolvimento. A criança, por volta dos sete anos, tem domínio de sua linguagem e está apta a conviver linguisticamente no seu grupo social. Este é o conhecimento que chamamos funcional que se diferencia do conhecimento estrutural da linguagem, centrado na relação entre seus componentes como os sons (fonologia), estrutura das palavras (morfologia), relações entre as palavras (sintaxe) e significado (semântica).
Cada grupo social tem seu uso linguístico, mas o elo que o mantém coeso é a estrutura normativa que a gramática oportuniza. Assim, aprendemos a gramática como um recurso para ampliarmos nosso conhecimento e podermos interagir com grupos distintos. Apesar de diferenças lexicais, ou mesmo sintática, somos capazes de interagir com falantes do português de Angola, Portugal ou de qualquer outra região, pois a estrutura gramatical é a mesma. Os falares regionais são exemplos desta unidade, pois podemos percorrer o Brasil de norte a sul, ouvindo falas diferentes, mas com a mesma base linguística do nosso Português brasileiro.
Linguagem padrão
A sociedade se organiza com regras e pune os transgressores. Com a linguagem não é diferente. A nossa comunidade linguística estabelece padrões que permitem a convivência entre os indivíduos. Na comunidade em que vivemos, as leis, os códigos e a constituição existem para estabelecerem o convívio "harmonioso e solidário" entre seus convivas. Diferente do que muitos pensam, a lei não existe para punir, mas para orientar e justificar nossos atos.
No mundo da linguagem é a mesma coisa, a gramática existe para estabelecer "regras" de compreensão e comunicação entre os indivíduos. Imaginem se cada indivíduo ou grupo social resolvesse criar a sua própria linguagem! Seria o caos. A linguagem é o maior exemplo de ato coletivo, qualquer mudança não depende de um indivíduo ou de uma ideologia grupal, as mudanças linguísticas ocorrem ao longo do tempo, através dos usos comuns.
Cabe ao gramático coletar estes "usos", normatizar e devolver à comunidade o padrão mais frequente. O gramático não cria regras, ele sintetiza as estruturas linguísticas mais eficientes para a comunicação.
A discussão pode ser muito longa, mas é importante trazer a palavra abalizada de um dos maiores estudiosos: Celso Cunha. Ele nos alerta para o respeito à fala individual, ao mesmo tempo em que lembra o papel da escola na missão de preparar o aluno para o enfrentamento do padrão culto da linguagem. Diz o grande mestre:
"...aqueles que não dominam razoavelmente tal dialeto – melhor dizendo: a língua culta – sofrem restrições na progressão social. Daí ser de toda a conveniência que se propiciem condições ao educando para que ele se assenhoreie progressivamente do dialeto prestigioso sem que seja violentado com a desorganização ou a destruição do seu vernáculo, do qual continuará a servir-se nas situações mais íntimas." (CUNHA, Celso. A questão da norma culta brasileira, 1985, p. 47)
Além das diferenças individuais, há as regionais que se evidenciam principalmente no léxico. Vejamos alguns exemplos: "Ficar com a gota" (Paraíba – Ficar com raiva); "arriégua" (Ceará – termo genérico que pode funcionar como olá); "trem" (Minas – termo genérico usado em diversas situações); "me caiu os butiás do bolso" (Rio Grande do Sul – expressão de espanto). Imaginem se não houvesse uma língua padrão, registrada em gramáticas, para mediar estas conversas!